Ketamina como Tratamento da Depressão
A ketamina é uma droga utilizada há muitas décadas como anestésico em contextos cirúrgicos. Recentemente, ela vem sendo estudada como alternativa para o manejo da depressão em pacientes que já tiveram falha da terapia medicamentosa convencional. Neste artigo você vai entender como utilizamos a Ketamina como tratamento da depressão:

O primeiro estudo com Ketamina para tratamento de depressão resistente ao tratamento foi realizado no ano 2000. [1]
Após conhecer o desenho do estudo e concordar em participar, sete pacientes, em semanas alternadas, receberam infusão endovenosa ou de solução salina ou de Ketamina, sem saber qual. [1]
Uma redução significativa dos escores de gravidade de depressão foi registrada após infusão de Ketamina, algo que não ocorreu após infusão de placebo. [1]
Desde então, múltiplos ensaios clínicos vêm demonstrando resultados semelhantes em relação à eficácia do uso da Ketamina em pacientes com depressão resistente ao tratamento [2] [3], e estes trabalhos têm suas informações agrupadas e estudadas em metanálises. [4]
O objetivo de uma metanálise é condensar as informações obtidas em diferentes ensaios clínicos, obtendo, desta forma, uma amostra de tamanho muito maior do que seria possível em estudos individuais. [4]

Múltiplos ensaios clínicos, revisões sistemáticas e metanálises realizados desde aquele primeiro trabalho no ano 2000, explorando a incidência e gravidade dos efeitos colaterais, perfil de segurança, tempo de duração do efeito, dentre outras características [5-7].
Juntamente com trabalhos de pesquisa em laboratório, a ciência começou a desvendar os mecanismos que levam ao funcionamento da Ketamina, como pode ser visto no artigo – link para o artigo no site.
Essas décadas de pesquisa culminaram na aprovação, por parte do FDA e da Anvisa, do uso do isômero S da Ketamina (aprenda sobre isômeros aqui – link), chamado de Esketamina, para o tratamento de depressão. [8] [9]
Atualmente, com a eficácia – a comprovação dos efeitos em contextos de pesquisa clínica – já determinada, há equipes médicas e neurocientistas que
buscam mostrar a aplicabilidade do uso da Ketamina no mundo real, para pacientes reais – um conceito denominado efetividade. [10]
Estudo retrospectivo realizado em um centro médico norte-americano analisou dados de prontuário de 537 pacientes. Foram considerados respondedores os pacientes com uma queda de mais de 50% no escore PHQ-9 entre a aplicação anterior ao início do tratamento e a aplicação posterior ao fim da fase de indução.
Pacientes cujo escore após a fase de indução foi menor que 5 pontos eram considerados em remissão. [11]
Este estudo encontrou taxa de resposta de 56,3%, e remissão em 28,9% dos pacientes. Além disso, 8 semanas após o término das infusões, 60% dos pacientes mantinham-se na categoria de respondedores, ou seja, com redução maior que 50% no valor do seu escore de gravidade. [11]
Estudo retrospectivo de hospital universitário com 87 pacientes usando outro (QIDS-SR), mas com os mesmos critérios (redução > 50% para configurar resposta, score menor que cinco, para remissão), obteve 45,5% de resposta, com 27,3% de remissão. [12]
Os dados destes trabalhos vão ao encontro do que foi obtido através de uma metanálise que incluiu estudos observacionais, séries, e relatos de caso, e agregou dados de 72 trabalhos que incluíram 2665 pacientes portadores de depressão resistente ao tratamento. Esta metanálises encontrou 45% de resposta, com 30% dos pacientes apresentando remissão dos sintomas. [13]
Recentemente, pesquisadores italianos acompanharam 116 pacientes em uso de Esketamina, no momento 0, após um mês de uso, e após três meses, obtendo os seguintes dados: [14]
- Após um mês, 28,4% dos pacientes apresentavam resposta, sendo que 11,2% apresentavam remissão dos sintomas. [14]
- Após três meses, 64,2% dos pacientes apresentavam resposta, e 40,6% estavam em remissão. [14]
- Interessantemente, 38% dos pacientes que apresentavam remissão dos sintomas
após três meses estavam entre os não respondedores na primeira reavaliação
(após um mês) [14].
Conclui-se, então. Que entre pacientes que já tentaram pelo menos outros dois tratamentos anteriormente, sem resposta satisfatória, a Ketamina desponta como uma alternativa com resultados animadores. [1-3][5-14]
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Referências:
1 – Berman, R. M., Cappiello, A., Anand, A., Oren, D. A., Heninger, G. R., Charney,
D. S., & Krystal, J. H. (2000). Antidepressant effects of ketamine in depressed
patients. Biological psychiatry, 47(4), 351–354.
https://doi.org/10.1016/s0006-3223(99)00230-9
2 – Zarate, C. A., Jr, Singh, J. B., Carlson, P. J., Brutsche, N. E., Ameli, R.,
Luckenbaugh, D. A., Charney, D. S., & Manji, H. K. (2006). A randomized trial of an
N-methyl-D-aspartate antagonist in treatment-resistant major
depression. Archives of general psychiatry, 63(8), 856–864.
https://doi.org/10.1001/archpsyc.63.8.856
3 – Diazgranados, N., Ibrahim, L., Brutsche, N. E., Newberg, A., Kronstein, P.,
Khalife, S., Kammerer, W. A., Quezado, Z., Luckenbaugh, D. A., Salvadore, G.,
Machado-Vieira, R., Manji, H. K., & Zarate, C. A., Jr (2010). A randomized add-on
trial of an N-methyl-D-aspartate antagonist in treatment-resistant bipolar
depression. Archives of general psychiatry, 67(8), 793–802.
https://doi.org/10.1001/archgenpsychiatry.2010.90
4 – Ahn E, Kang H. Introduction to systematic review and meta-analysis. Korean J
Anesthesiol. 2018;71(2):103-112.
doi:10.4097/kjae.2018.71.2.13
5 – McGirr, A., Berlim, M. T., Bond, D. J., Fleck, M. P., Yatham, L. N., & Lam, R. W.
(2015). A systematic review and meta-analysis of randomized, double-blind,
placebo-controlled trials of ketamine in the rapid treatment of major depressive
episodes. Psychological medicine, 45(4), 693–704.
https://doi.org/10.1017/S0033291714001603
6 – Kishimoto, T., Chawla, J. M., Hagi, K., Zarate, C. A., Kane, J. M., Bauer, M., &
Correll, C. U. (2016). Single-dose infusion ketamine and non-ketamine N-methyl-
d-aspartate receptor antagonists for unipolar and bipolar depression: a meta-
analysis of efficacy, safety and time trajectories. Psychological medicine, 46(7),
1459–1472.
https://doi.org/10.1017/S0033291716000064
7 – Seshadri, A., Prokop, L. J., & Singh, B. (2024). Efficacy of intravenous ketamine
and intranasal esketamine with dose escalation for Major depression: A systematic
review and meta-analysis. Journal of affective disorders, 356, 379–384.
https://doi.org/10.1016/j.jad.2024.03.137
8 – Kim, J., Farchione, T., Potter, A., Chen, Q., & Temple, R. (2019). Esketamine for
Treatment-Resistant Depression – First FDA-Approved Antidepressant in a New Class. The New England journal of medicine, 381(1), 1–4.
https://doi.org/10.1056/NEJMp1903305
9 – x- ANVISA autoriza primeiro medicamento inalável para tratar depressão grave. Serviços e informações do Brasil. 13 Novembro 2020. Disponível em
Acesso em 02-set-2024
10 – Kim SY. Efficacy versus Effectiveness. Korean J Fam Med. 2013;34(4):227.
doi:10.4082/kjfm.2013.34.4.227
11 – McInnes, L. A., Qian, J. J., Gargeya, R. S., DeBattista, C., & Heifets, B. D. (2022).
A retrospective analysis of ketamine intravenous therapy for depression in real-
world care settings. Journal of affective, 301, 486–495.
https://doi.org/10.1016/j.jad.2021.12.097
12 – Wilkinson, S. T., Katz, R. B., Toprak, M., Webler, R., Ostroff, R. B., & Sanacora,
G. (2018). Acute and longer-term outcomes using ketamine as a clinical treatment
at the Yale Psychiatric Hospital. The Journal of clinical psychiatry, 79(4), 10099
13 – Alnefeesi, Y., Chen-Li, D., Krane, E., Jawad, M. Y., Rodrigues, N. B., Ceban, F.,
Di Vincenzo, J. D., Meshkat, S., Ho, R. C. M., Gill, H., Teopiz, K. M., Cao, B., Lee, Y.,
McIntyre, R. S., & Rosenblat, J. D. (2022). Real-world effectiveness of ketamine in
treatment-resistant depression: A systematic review & meta-analysis. Journal of psychiatric research, 151, 693–709.
https://doi.org/10.1016/j.jpsychires.2022.04.037
14 – Martinotti, G., Vita, A., Fagiolini, A., Maina, G., Bertolino, A., Dell’Osso, B.,
Siracusano, A., Clerici, M., Bellomo, A., Sani, G., d’Andrea, G., Chiaie, R. D., Conca, A., Barlati, S., Di Lorenzo, G., De Fazio, P., De Filippis, S., Nicolò, G., Rosso, G., Valchera, A., … REAL-ESK Study Group (2022). Real-world experience of
esketamine use to manage treatment-resistant depression: A multicentric study on safety and effectiveness (REAL-ESK study). Journal of affective disorders, 319, 646–654.